Não faz muito tempo que as necessidades materiais eram muitas
em nossas vidas. E no sertão, então. Elas eram preenchidas através de muitos
sacrifícios: pegar lenha no mato para cozinhar, pegar água nas cacimbas para
encher os potes, ter cuidado para não faltar gás no candeeiro, ir para a escola
a pé, pegar em brasas para engomar roupas, extrair dentes sem anestesia, nascer
em casa, e por aí vai.
Não existia dinheiro fácil e nem luxo, muito menos vaidade.
Os silos nas salas das casas queriam dizer que tinha fartura, mas uma fartura
da comida grosseira, como o feijão e o milho. Nas calçadas, o velho e largo
banco de madeira era sinal de que nas noites as conversas seriam colocadas em
dia. Não tinha TV e nem internet.
As roupas não tinham tanta extravagância e nem tampouco eram
moldadas nos corpos das senhoras e senhoritas, como hoje em dia. A beleza
feminina nascia e resplandecia da alma. A beleza da donzela estava exposta pela
delicadeza e educação, e não pelos decotes ousados e provocativos.
Funcionava assim porque a regra era essa, embora as exceções
também existissem, e embora as moças fossem mulheres da lida, isto é, davam
duro no dia a dia elas não perdiam a candura feminina. Academia? Caminhada? Não
existiam porque não precisavam.
Os homens, então, trabalhavam não para comprar
motos ou carros e nem para as farras. Mas para ajudar em casa, e quando já mais
moço, o pedido ao pai por uma roça era sinal de que já tinha planos para o
casamento e constituir família.
As festas eram de ano em ano, e os forrós nos sítios eram
animados a noite toda. Andar a cavalo ou de burro não era para todo mundo. Os
animais custavam caros, e os pés eram os principais órgãos encarregados de
levar seus donos aos lugares perto ou longe.
Hoje em dia tudo mudou. Temos tudo ao nosso alcance:
transportes, dinheiro, luxo, comodidade, farras, bebidas e comidas, casas
confortáveis, roupas, perfumes e sapatos da moda. E que bom que tudo mudou para
melhor, embora infelizmente ainda exista gente morrendo de fome no Brasil e no
mundo. Até nas mais humildes casas do sertão percebe-se a diferença.
É uma maravilha toda essa constatação. É a evolução dos
tempos presente também nas pequenas cidades e até mesmo na zona rural. No
entanto, tudo tem o outro lado. Se num passado recente tínhamos privações,
podemos dizer também que tínhamos mais tranqüilidade na vida.
Não existia luxo, mas também não existia preocupação em
excesso com o ter de hoje em dia; não existia vaidade, mas também não existia
apego as coisas matérias de hoje em dia; e quanto menos coisas matérias se
tinham menos ocupação à mente possuía.
E se temos tudo a nossa volta hoje em dia, temos também ao
nosso redor, como conseqüências as diversas situações negativas: as enfermidades
do corpo e da alma, por exemplo.
Cada vez mais jovens estão sendo vitimas de derrames, infartos e outros
males que naquele tempo só atingiam os mais velhos. E as drogas? E os suicídios
de pobres e ricos? E a depressão? E a angustia e o medo do futuro? E as mortes
no transito? E a violência desenfreada?
Amigos leitores, o
mundo mudou porque evoluiu e assim o comportamento humano também. É a lógica do
tempo. O preço pelas mudanças está ai à vista de todos. Não sou contra a nada
que melhore nossa vida, pelo contrário, mas é preciso entender que, se o
progresso cada vez mais rápido estar ao nosso alcance, é preciso saber viver
com a modernidade e suas conseqüências.
E a moral do texto é: nós estamos preparados para enfrentar
esse tempo moderno? Os jovens estão preparados? E como o tempo voa, amanha
esse progresso de hoje já estará ultrapassado, e aí, como os bilhões de pessoas
no mundo se comportarão?
E já que não existe uma receita da felicidade, às vezes é preciso comparações, olhar no retrovisor da vida,
para discernir as mudanças do tempo, valorizando o antes, pisar os pés firmes no
agora, para tentar conviver e vencer os
obstáculos do amanhã.
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