As primeiras casas construídas na cidade de Boa Ventura são
aquelas que ficam por trás da igreja católica. Aliás, o surgimento de Boa
Ventura é muito parecido com o surgimento de toda e qualquer cidade: perto de
onde tem água e sempre próxima a uma pequena capela.
Começou com a chegada do coronel Francisco Diniz e o Alferes
Luiz Pinto e família. De onde vieram? As informações nesse sentido são vagas,
mas aqui se instalaram e fizeram morada, isso em meados de 1750 ou mais adiante
um pouco. Uma das filhas do coronel era a famosa Maria Baraúna, que é nome de
uma escola municipal aqui na cidade.
Devido a uma promessa, eles constroem uma capela e dedica a Nossa
Senhora da Conceição o nome da pequena casa de oração. Até mesmo uma escritura
de doação do terreno da capela eles fizeram, e foi feita no cartório da então
cidade de Pombal, única cidade do sertão daquele tempo, as outras como Piancó e
Misericórdia eram apenas vilas, e Boa Ventura uma pequena comunidade, com pouquíssimas
casas ao redor da capela.
Aliás, esta escritura ainda existe e está bem conservada. Ela
é patrimônio da igreja católica e de toda a comunidade, como documento raro e
de relevante valor histórico. Eu vi a cópia desta escritura e depois vou
mostrar aqui para vocês. E vou fazer mais: como as letras são muito pequenas,
eu vou mostrar a imagem do documento e digitar letra por letra e confirmar
alguns dados importantes do lugar que era Boa Ventura naquela época. Zuza
Lacerda aparece no inicio do século XX, que é uma outra história que contaremos
mais adiante.
Pois bem, com o passar dos tempos, aquela pequena comunidade
foi crescendo, passando por vila, distrito e até que em 1961 ganhou a
emancipação política, através de um ato governamental de Pedro Gondim,
governador da Paraíba de então. Algumas reformas na capela foram feitas e
chegaram até mesmo a aumentá-la, até que na década de setenta, atendendo a um
apelo do bispo dom Zacarias Rolim, a igreja foi praticamente derruba e erguida
para o outro lado, com a construção de uma torre, acompanhando assim o
desenvolvimento da cidade.
Então aquelas casas que ficam ao lado e por trás da igreja
são as primeiras construções, claro que muitas delas foram totalmente
reformadas e ganharam outras arquiteturas, embora ainda existam casas
conservadas que são muito antigas. Basta ver a largura das paredes. São de
tijolos grandes, como se fossem feitas seguras para uma possível defesa dos
moradores.
E um pedreiro amigo meu contou que, em certa ocasião, fazendo
uma reforma em uma daquelas casas, ao derrubar o reboco de uma parede chegou a
cair uma certa quantidade de balas de rifles, outras de revolver. E que em
muitas casas havia, de uma casa para a outra, portas, dando a entender que numa
possível invasão de famílias inimigas e até mesmo de cangaceiros, os moradores
escapariam mudando de casas rapidamente.
Esse pequeno relato é apenas uma passagem de tantas outras
que a nossa cidade, nosso município tem em sua história, que chegaram até nós
através da tradição, isto é, relatos dos mais velhos de geração a geração, ou
documentos, como no caso essa escritura valiosa que temos, e que tem quase
trezentos anos. E que os mais novos possam aprender um pouco do seu passado,
para que não seja um cidadão alheio à sua própria história.
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