quarta-feira, 23 de julho de 2014

Morre, aos 87 anos, o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna

Divulgação/SecultBA/Rosilda Cruz
Ariano Suassuna
Morreu na tarde desta quarta-feira (23) o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna. Ele estava internado no Real Hospital Português, em Recife, desde a segunda-feira (21), quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Após a realização de um procedimento cirúrgico, Ariano Suassuna entrou em estado de coma. Esta foi a terceira internação do escritor em um ano. Ariano Suassuna sofreu uma parada cardíaca por volta das 17h40 desta quarta-feira. 

O velório do escritor deve ser realizado no Palácio do Campo das Princesas, em Pernambuco. De lá, o corpo do paraibano segue para cortejo em carro do Corpo de Bombeiros até o Cemitério Morada da Paz, onde será sepultado.
A última vez que Ariano Suassuna apareceu em público foi na sexta-feira (18). Ele concedeu uma aula-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns, município localizado no Agreste pernambucano, a 228 km da capital Recife. No sábado (19), ele tirou fotos com fãs que participavam do evento. 
Considerado um dos maiores escritores paraibanos de todos os tempos, Ariano Suassuna era filho do ex-governador João Suassuna. Um contador nato de histórias. E uma delas, que mais gostava de contar, era de que foi a única criança que circulou nua pelos corredores do Palácio da Redenção. Ariano nasceu dentro da sede do Governo do Estado da Paraíba.

Desse fato, derivou outra história. Ariano contava que, já adulto e escritor renomado, iria participar de uma solenidade no Palácio da Redenção numa época onde os homens só tinham acesso ao local vestidos de paletó e gravata. Desavisados, Ariano não estava de terno e foi barrado. E reagiu com bom humor, lembrando ao soldado da PM que fazia a guarda nos portões do Palácio: “Amigo, fique sabendo que eu já andei nu aí dentro”.

Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no sertão, na Fazenda Acauã.

Com a Revolução de 30, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.

A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu HermiloBorba Filho. E, junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, ‘Uma Mulher Vestida de Sol’. Em 1948, sua peça ‘Cantam as Harpas de Sião’ (ou ‘O Desertor de Princesa’) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os ‘Homens de Barro’ foi montada no ano seguinte.

Entre 1951 e 1952, volta a Sousa, para curar-se de uma doença pulmonar. Lá escreveu e montou Torturas de um coração. Em 1955, Auto da Compadecida o projetou em todo o país. Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi diria que a peça é "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro". Sua obra mais conhecida, já foi montada exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a televisão e para o cinema.

Em seguida, retorna a Recife, onde, até 1956, dedica-se à advocacia e ao teatro. Abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça ‘O Casamento Suspeitoso’, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e ‘O Santo e a Porca’; em 1958, foi encenada a sua peça ‘O Homem da Vaca’ e o ‘Poder da Fortuna’; em 1959, ‘A Pena e a Lei’, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.

Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que montou em seguida a ‘Farsa da Boa Preguiça’ (1960) e ‘A Caseira e a Catarina’ (1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência ‘A Onça Castanha’ e a ‘Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira’. Aposenta-se como professor em 1994.

Membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (1969). Ligado diretamente à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o ‘Movimento Armorial’, interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto ‘Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial’ e com uma exposição de gravura, pintura e escultura. Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes (1994-1998).

Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o ‘Romance d’A Pedra do Reino’ e o ‘Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta’ (1971) e ‘História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão’/’Ao Sol da Onça Caetana’ (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”.

Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a cavalgada inspirada no ‘Romance d’A Pedra do Reino’, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.
Em 2000, ele passou a integrar a lista de membros da Academia Paraibana de Letras e recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte.

Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado ‘O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna’, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.

Ariano Suassuna, um dos maiores escritores do país, dizia sempre: "Você pode escrever sem erros ortográficos, mas ainda escrevendo com uma linguagem coloquial."

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