Se o comandante da Polícia chora...
Professor Jônatas Frazão*
Reprodução (Da Internet) |
Foi com enorme preocupação que li esta semana sobre o choro do Comandante do II Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Souza Neto, durante sessão na Câmara Municipal de Campina Grande, ao relatar as dificuldades que enfrenta na cidade para executar a sua tarefa cotidiana de garantir segurança pública ao cidadão, diante das dificuldades que enfrenta.
Não é fácil garantir ao cidadão a segurança que ele tanto almeja, quando se tem dificuldades de estrutura, salários defasados e uma tropa desestimulada em virtude do que encontra no seu dia a dia. Se o comandante da Polícia – homem preparado e ápice da pirâmide do aparato policial – chora, diante das dificuldades encontradas, imagine quantas lágrimas rolam no rosto do cidadão comum...
E quantas lágrimas irão rolar neste mesmo rosto até que tenhamos, minimamente, pelo menos uma sensação de segurança para sair de casa e ir à padaria, comprar nosso pão e leite diários? Não só em Campina, mas aqui em João Pessoa também, onde resido, encontro relatos de colegas da Universidade sobre preocupações diversas, causadas pela falta de segurança. Peço desculpas pelo tamanho deste artigo, mas o que vou relatar agora me preocupa e deveria preocupar as autoridades do nosso estado também.
Não é fácil morar num estado cujos policiais fazem rodízio de coletes e de revólveres no trabalho diário, como constatou estudo do Ministério da Justiça “Perfil de Instituições de Segurança Pública”; sabendo que os salários dos profissionais da segurança pública figuram entre os piores do país, pois a remuneração de um delegado chega a ser 74,42% inferior ao salário dos delegados de Sergipe (R$ 23.615,30).
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que ele é o 5.º do País e o 4.º do Nordeste com maior crescimento de homicídios por arma de fogo (avanço de 210,8% em relação a 2002); que registra 32,8 mortes para cada 100 mil habitantes; que nos últimos 2 anos, 3.222 pessoas morreram de forma violenta na Paraíba.
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que a sua capital tem a segunda maior taxa de homicídios do País: 71,6 assassinatos para cada 100 mil (em 2000 esse índice era de 31,6 - mais que dobrou em uma década); que em João Pessoa mata-se mais com arma de fogo do que em mais de cem países do mundo, incluindo os mais violentos, como El Salvador (50,4), Venezuela (43,5) e Guatemala (39,4).
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que ele tem cinco cidades no ranking das 100 mais violentas do mundo: João Pessoa, Cabedelo, Caaporã, Patos e Bayeux; e que é o 3.º do País onde mais se mata mulher; que entre 2010 e 2011 a Paraíba teve um crescimento de 10% na sua taxa de homicídios (o 5º maior aumento do Brasil); que a Paraíba tem o 2º maior índice de mortes violentas do Nordeste, entre jovens (71,5 homicídios a cada 10 mil habitantes) perdendo, apenas, para Alagoas (79).
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que, de 2001 a 2011, ele registrou 1.129 mortes a mais que no levantamento anterior – aumento de 230,4% (no Nordeste foi de 83,7% e no Brasil 8,9%), passando de 490 mortes em 2001 para 1.619 em 2011 (dados do Sistema de Informação sobre Moralidade do Ministério da Saúde) e que este é o segundo maior percentual do País, perdendo apenas para a Bahia (245,2%).
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que, aqui, seis cidades estão entre as 100 mais violentas do Brasil; que em relação à taxa de homicídios por 100 mil habitantes a Paraíba saltou de 14,1 em 2001 (21º lugar) para 42,7 em 2011 (4º lugar) - aumento de 202,6% que colocou a Paraíba como o 3º Estado do País com maior taxa de homicídios, ficando atrás de Alagoas – 72,2 e Espírito Santo – 47,4.
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que ele é o 4º do Nordeste em crescimento no número de assassinatos de mulheres, com 204,3%; que em 2011, a taxa de homicídios femininos ficou em 7,3% - 4ª maior do País, ficando atrás de Espírito Santo (9,2%), Alagoas (8,5%) e Goiás (8,5%).
Não é fácil morar nesse estado sabendo que, no Brasil, 63,4% dos jovens morrem de forma violenta; no Nordeste 66,9% e na Paraíba 71,5%; que no Brasil 39,3% dos jovens morrem vítimas de homicídios; no Nordeste, 47,3% e na Paraíba, 53,6%; que sua capital é a 4º do País e a 3ª do Nordeste em número de casos de homicídios; que os assassinatos em João Pessoa cresceram 152,2% de 2001 a 2011 – 3ª maior taxa entre as capitais do Brasil (perdendo apenas para Natal – 251,3% e Manaus – 181,1%).
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que o número de execuções e jovens na capital mais que dobrou em 10 anos: de 105 casos em 2001 para 289 em 2011 – 3ª colocação no Nordeste; que no universo de 100 mil habitantes, ela é a 2ª capital do País com maior taxa de homicídios juvenis em 2011: 215,1 – perdendo apenas para Maceió (288,1).
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que sua capital tem a 2ª maior taxa de homicídios do País (2011) – 86,3 assassinatos no universo de 100 mil habitantes, bem acima da taxa do Brasil (36,4); que 6 cidades da Paraíba com mais de 20 mil habitantes estão entre as 100 mais violentas do País (compreendendo o período de 2009 a 2011): Cabedelo, Conde, Santa Rita, Mari, João Pessoa e Patos.
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que, em relação às execuções de jovens (de 2009 a 2011), entre as 100 cidades com mais de 10 mil jovens, destacam-se seis paraibanas: Cabedelo, Santa Rita, João Pessoa, Patos, Bayeux e Campina Grande; que, segundo o IBGE, 575 pessoas (em média) são roubadas por dia; que em 1 ano, 210 mil pessoas foram roubadas (6,6% da população paraibana com 10 anos ou mais); que em 1 ano, 122 mil paraibanos foram vítimas de tentativas de roubos e furtos – queixas formalizadas à polícia (3,8%).
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que ele é o 5º pior do Brasil na sensação de insegurança nos bairros; que 62,9% dos paraibanos se declaram inseguros; que 19,8% dos paraibanos se sentem inseguros dentro de casa; que 37,1% dos paraibanos se sentem inseguros nas ruas, dentro do bairro onde moram; e que 40,9% dos paraibanos se sentem inseguros nas cidades onde moram.
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que 10,9% dos estudantes declararam ter faltado à escola no período de 30 dias que antecederam a pesquisa, por medo, devido à falta de segurança; que em 2011 e 2012 foram 166 assaltos a agências dos Correios na Paraíba (1 assalto a cada 5 dias).
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que em 2011 e 2012 ocorreram 166 assaltos a agências dos Correios (1 assalto a cada 5 dias); que sua capital já chegou a registrar, num período de 5 dias, 25 assaltos a ônibus (entre 03 e 07 de julho de 2013); que houve aumento de 200% no número de ocorrências em agências bancárias (explosões, assaltos, arrombamentos, tentativas e saidinhas de banco), este ano, em relação a 2013.
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que em todo o ano de 2012 foram registrados 63 ataques a bancos, número que foi superado, em 2013, em apenas 5 meses, pois no dia 28 de maio foi registrado o 64º ataque a banco de 2013; e que até este mês de setembro já são mais de 100 ataques.
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que, recentemente, o Jornal O Globo o apontou como um dos mais violentos do Brasil, em reportagem que apontou as mortes por armas de fogo equivalentes a regiões do planeta marcadas por conflitos armados; e que, em 2012, cerca de 3 mil pessoas foram roubadas só na capital (dados oficiais, de queixas prestadas nas delegacias), o que dá cerca de 250 roubos por mês, ou mais de 8 por dia.
Sem querer assustar com esses números, mas se algo não for feito agora, a situação tende a piorar. Que tal começar pelo que prometeu o governador Ricardo Coutinho na campanha de 2010: ir para as ruas e comandar pessoalmente uma ação integrada, arrojada e não se esconder por trás de secretário algum, oferecendo estrutura para a polícia, com salários dignos e condições para trabalhar? A Paraíba agradeceria.
Caso contrário, o comandante vai continuar chorando. E os bandidos, dando boas gargalhadas
*professor aposentado da UFPB. Este comentário também está publicado no meu Facebook
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