terça-feira, 2 de dezembro de 2014

“Perdi a conta de quantas vezes meu pai me estuprou na infância”, revela médica

Estuprada dos sete aos nove anos, Jennifer só teve coragem de falar do ocorrido em 2011


 No início, quando o pai de Jennifer Hanes começou a fazer incursões noturnas a seu quarto, ela fingia estar dormindo.

Mas cada vez que sentia o cheiro de bebida exalar do hálito dele, a então menina de menos de nove anos começava a se debater, na tentativa inútil de se desvencilhar do agressor e evitar o que seria apenas o início de uma série de abusos sexuais.

Os estupros se repetiram de forma contínua por vários anos na casa da família em Missouri, nos Estados Unidos. Para que sua mãe não desconfiasse de nada, Jennifer conta que o pai, um professor do Kansas City, usava um urso de pelúcia para abafar seu grito desesperado.

"Nem lembro quantas vezes ele [pai] me violentou", confessou ela em conversa com o iG. "Acabei mergulhando nos estudos para tentar superar essa violência. Foi aí que surgiu minha paixão pela medicina", explica ela, que atualmente é clínica geral no Texas.

Apesar de ter sido estuprada durante grande parte da infância – dos sete aos nove anos de idade –, Jennifer só teve coragem de falar do ocorrido em 2011. Ela afirma ter se dado conta de que não havia superado a violência quando estava se submetendo a um tratamento estético. Depois de a esteticista colocar uma toalha quente sobre seu rosto, ela imediatamente se lembrou do método utilizado pelo pai para calá-la durante os estupros e percebeu que precisava de ajuda para superar o trauma.

"Pulei da mesa e corri para o estacionamento. Chorei tanto aquele dia que não consegui dirigir. Ali, sentada sozinha dentro do meu carro, comecei a gritar tudo o que não pude na infância: 'Socorro! Alguém me ajude!'", lembrou ela.

Anos mais tarde, já fazendo terapia, a norte-americana ponderava sobre denunciar ou não o pai, já idoso, pelo crime, quando recebeu a notícia de que ele havia sido atropelado por um carro e estava internado em estado grave. Ela, então, pediu para conversar sozinha com seu agressor e o perdoou pelo crime.

"Disse em seu ouvido que não havia esquecido as agressões e que aquilo [o acidente] havia acontecido em resposta às maldades que ele cometeu contra mim no passado", explica.

A história de abusos vivida pela médica não é diferente das outras cerca de 120 milhões já notificadas por todo o mundo, segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) em março. O estudo aponta que 1 em cada 10 jovens com menos de 20 anos foi vítima de estupro ou de outro tipo de violação pelo mundo.

IG

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