terça-feira, 1 de abril de 2014

No sitio Angicos também houve alvoroço na revolta de 30

Depois que narrei um pouco o que se passou na revolta de 1930 no município de Boa Ventura, de acordo com alguns depoimentos de pessoas idosas, a exemplo de Luiz Sobrinho de Freitas, que na época contava com a idade de seis anos, e outras narrativas de idosos que ainda não eram nascidos, mas que seus pais contavam o que se passou por essas bandas, estou na firme convicção de colher mais detalhes, para num futuro próximo escrever um livro sobre o assunto.

Claro que a falta de material escrito e de imagens sobre as lutas armadas entre a Policia do Estado e os homens do coronel Zé Pereira em São Boaventura dificulta um pouco este trabalho, no entanto, com o passar dos dias, tomo conhecimento através de outros idosos de fatos e mais fatos sobre o assunto, que me impulsiona cada vez mais a tomar essa iniciativa:  de colocar no papel tudo que ouvi sobre invasão, violência, medo e mortes na então pequena vila de São Boaventura, no começo da década de trinta, período em que o temível coronel de Princesa Isabel declarava toda essa região Território Livre de Princesa.

Já tenho vários depoimentos em mãos sobre o assunto, mas alguns são bastantes ávidos e ainda guardados na memória de alguns ilustres filhos da terra, poucos, é verdade, mas que posso publicar em partes neste espaço, e preservando outros temas pertinentes para num momento futuro fazer valer a escrita em outro aspecto, como já salientei.

E um exemplo vem de uma senhora de cor branca, simpática e que gosta muito de conversar. T
rata-se da senhora Maria Clara da Silva, esposa de seu Galdino, que no alto de seus 78 anos de idade, é lúcida e conta em detalhes tudo que se passou onde ela nasceu e morou por muitos anos: o sitio Angicos.

" Eu nasci na revolta de 30 e minha mãe contava que foi a maior agonia da vida da família. Enquanto eu chorava pra vir ao mundo, as balas comiam na vila e em alguns sítios", conta ela, se lembrando a este que " era o que minha mãe contava, nera?".

Ela disse que na comunidade, os moradores sumiram todos, quando ouvia os tiros dos fuzis. O povo entrava no mato correndo e passavam dias escondidos, feito bicho do mato. Passava fome, sede e frio. Era o maior sofrimento do mundo", conta.

Bem, outros detalhes dessa narrativa e de tantas outras estão guardadas, e nesse sentido, espero contribuir com a história do município, deixando registrado para os mais novos certos episódios que marcaram a vida dos seus antepassados, e o faço porque a tradição oral, que ainda temos ao nosso alcance em breve não as teremos mais, pois nossas fontes já estão idosas, e fontes escritas praticamente não existem.

São fatos que marcaram a época e servem não somente como paginas viradas da historia que ficou para trás, mas traz consigo toda uma simbologia de uma época vivida, de sofrimento, é verdade, mas que fica como mensagem e como exemplo de uma geração que sofreu e lutou pela continuidade da comunidade. Isso também é cultura de um povo, de uma gente, de um lugar.

Delcides Brasileiro



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