A revolução de 1930 foi o movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com o golpe de Estado, que depôs o presidente da república Washington Luís em 24 de outubro daquele ano, e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pôs fim à República Velha, assumindo a Presidencia da República Getúlio Vargas.
Zé Pereira e sua tropa |
Na Paraíba, durante a revolução,
houve diversas ameaças e conflitos de luta armada entre partidários dos dois lados
da politica existente na época, que era a Aliança Liberal e os Perrepistas. No
sertão, mais precisamente em Princesa Isabel, o coronel José Pereira estava
revoltado com o governo do entao presidente( governador) João Pessoa que
anunciava apoio a Getúlio Vargas.
Mas nao foi somente isso que fez
o coronel ficar desgostoso com João Pessoa: antes, porém, na escolha da chapa
dos seus candidatos a deputado federal, o governador deixou de fora o coronel, que
ficou enfurecido e declarou sua inimizade com o seu ex-amigo e companheiro na
politica. Como resposta, João Pessoa tirou do poder o prefeito, vice-prefeito e
o promotor de Princesa Isabel, todos pessoas ligadas ao coronel.
Tal posição fez com que o coronel
José Pereira mandasse seus homens, cerca de 120, e bem armados invadir a
cidade de Teixeira, então território de Princesa Isabel. A conquista foi um
sucesso, isso no mes de fevereiro, pois quando foi em maio, o coronel e cerca
de duzentos homens bem armados invadiram Princesa e a partir daquele momento
declarou a cidade como um territorio livre do restante do Paraíba, mas ligada
ao Brasil, já que o presidente até entao era de seu partido. Nessa invasão mais
de 100 homens morreram, conta a história.
Um avião jogando panfletos
mandando a população abandonar suas armas foi enviado para Princesa, porém, o
coronel não se assustava e aumentava sua tropa com homens que apareciam de toda
a região próxima, como Misericórdia, hoje Itaporanga, e pasmem, homens de
pequena vila de São Boaventura, além de outros locais. Com a morte de João
Pessoa, em Recife, o coronel Zé Pereira volta a declarar aquele território como
municipio do estado.
A vila era pequena e tudo se concentrava em frente da pequena igreja |
E a partir desse ponto vamos
narrar o que acontecia na pequena vila de São Boaventura, território da antiga
Misericórdia. O coronel Zé Pereira tinha amigos em todo o sertão, até mesmo na
então vila. Pedro Arruda era um deles. E este, por sua vez, vendo o amigo em
apuros, arregimentou alguns homens armados para viajar até princesa e assim
garantir apoio ao coronel, que também queria aumentar sua fronteira, inclusive
no Vale do Piancó, que é uma região próxima.
Pois bem, segundo seu Luiz
Sobrinho, que conta hoje com a idade de 89 anos, e que na época era pequeno,
mas se lembra de algumas coisas desse tempo, somando a outros fatos contados
depois pelos mais velhos, disse que do sitio Barrenta foi o seu cunhado chamado
de Jonas Cordeiro, e mais: Manoel Cordeiro, João Luiz, Chico de Branca, Luiz
Preto e outros que ele não se recorda. “ Todos eles foram lutar a favor do
coronel Zé Pereira”, enfatiza. Ele narra que a noticia da revolução gerava medo
nas pessoas, que eram muito pacatas.
Sitio Barrenta era um local bastante vigiado pelos soldados |
No dia 14 de maio de 1930, com a ida
de alguns homens para Princesa, a policia do governo entra na vila e fica por
vários dias, já que o coronel Zé Pereira tinha a intenção de fazer do lugar um
ponto de apoio e também parte de seu territorio livre de Princesa. “ Nesse dia,
eu estava com minha mãe na cozinha, e ela estava preparando uma panela de angu,
eram umas 8 e meia da manhã, quando ouvimos o primeiro tiro de fuzil e minha
mãe me pegou pela mão e saimos correndo para a casa de meu tio, o senhor Cícero
Joca, que era pai de Davi Paulino”, disse.
Seu Luiz morava no sitio
Barrenta, muito próximo à vila, e se lembra que, “ os tiros eram muitos e eu vi
uma bala de fuzil no chão, parei para pegar, mas minha mãe me puxou pelos
braços e me levou dali correndo”. Ele conta que os moradoes se apavoravam
dentro de suas casas.
Os tiros eram disparados pela
policia e por homens do coronel Zé Pereira, que ao saber da posse da vila pela
policia, tentou de todo jeito tomar o lugar. “ Houve mortes de policia e de
homens do coronel. Da torre da igreja, a policia trocava tiros com os capangas
do coronel”, relembra. Nessa época, o famoso coronel Zuza Lacerda já era
falecido. Nas casas da vila, a policia abria buracos de uma casa para a outra
para dar fuga caso fosse preciso. Não faz muito tempo que um pedreiro em Boa
Ventura contou que quando estava realizando uma reforma em uma casa ao lado da
igreja católica, ele teria encontrado várias balas de fuzis dentro das paredes
velhas.
Seu Luiz de Freitas explica que
houve dois grandes tiroteios, e que o povo do lugar fugia para onde pudia
fugir. O Ceará era um dos locais mais procurado por algumas familias que
queriam fugir da revolta de 30. De acordo com o comerciante Ranulfo Militão,
seus pais foram parar em uma cidade do Ceará. “ O meu irmão Chico Militão
nasceu por lá”, disse Ranulfo, que acrescentou que tão logo passou essa
movimentação armada na vila a familia retornou.
A vila existia por trás da igreja: começo de tudo |
“ Tinha policiais muito ruins,
durante o tempo que ocupou a vila, tinha deles que saiam destruindo plantaçoes
de milho e feijão, pegando objetos dos moradores, e até matando”, revela Luiz
Sobrinho. Seu Zezé Rosado conta que no sitio Saco, um senhor da familia Cândido
estava em cima de uma carnaúba tirando folhas, e outro amigo seu estava em
baixo da árvore, quando avistou soldados e mandou o amigo descer e correr.
“ Não deu tempo do rapaz descer e correr, a
policia matou ele em cima da carnaúba de um tiro só. Ele já caiu morto”, disse
Zézé Rosado, que não era nascido nesse ano, mas seu pai contava porque tinha
vivenciado esse momento na vila. O lugar onde esse senhor foi alvejado depois
depois foi construido uma pequena capela, que fica ao lado da PB 361, saida
para a cidade de Diamante. Ele era o avõ do funcionario público municipal Jota
Cândido.
Seu Luiz era pequeno e vivenciou esse momento histórico da vila |
Depois desse momento tenso e
sangrento, e com a normalidade da ordem instaurada no país e no estado, as
pessoas que tinham deixado a vila começavam a retornar, e as conversas sobre
tudo que acontecera rondou por muitos anos. Seu Luiz disse também que há muito
tempo começou a escrever um livro sobre esse fato e outros da comunidade, mas
que deixou o projeto de lado. “ Depois eu vou te entregar tudo e você olhe o
que pode aproveitar dos meus rascunhos”, pediu ele.
Fatos que são lamentaveis como a
invasão da então vila de São Boaventura pela policia e jagunços em 1930 precisam
ser contados porque fazem parte da história do lugar e os mais jovens precisam
tomar conhecimento de seu passado, não como obrigação, mas para valorizar cada
vez mais seu torrão natal e descobrir que o seu berço e a sua origem são
riquissimas de detalhes que engrandecem as novas gerações, frutos de um povo
destemido e aguerrido no passado.
Ele contava que na invasão, a vila ficou deserta. Todos fugiram para os sítios, cidades ou estados vizinhos. Interessante é que um dos irmãos de minha avó era da polícia, da Aliança Liberal, e meu avô e os demais familiares, perrepista.
ResponderExcluirOlá Delcides!
ResponderExcluirA postagem anterior que fiz saiu incompleta. Talvez tenha sido falta de comando meu na hora de postar.
O texto inicial é o seguinte:
Cresci ouvindo o meu avô, orgulhosamente, contado essas histórias. Ele foi um dos auxiliares do Coronel Zé Pereira. Era um dos encarregados de levar as correspondências aos aliados , uma vez que via instituição pública (correios) estas seriam interceptadas. Ele dizia que a maioria das vezes fazia esse “pombo correio” a pé para despistar as milícias; que umas das viagens mais longas que fez a pé foi à São José, Distrito de Campina Grande.