sábado, 23 de novembro de 2013

Um ano de uma conquista histórica para Boa Ventura: o povo se libertou da omissão e do medo e foi às ruas

     No próximo dia 26, completa um ano da grande e histórica manifestação em prol da água em Boa Ventura. Naquele dia, a população de Boa Ventura acordou sentindo um clima diferente na cidade. Estava muito estranho naquela manhã de outubro. Mas todos queriam uma resposta, e não encontrava algo que pudesse justificar aquele ambiente. 

      O que era comum a todos naquele dia, era a falta da água nas torneiras. Há mais de dias que o problema se agravara e a população começara a ficar irritada com aquela situação.
Alguns poucos carros pipas distribuía água em algumas ruas e filas de pessoas se formavam em dos poços da Cagepa, onde através de uma tubulação, a água enchiam os baldes e panelas dos moradores. Era a única coisa comum, então, a todos naquele dia, além de muita reclamação e indignação dos consumidores.

       Mas foi exatamente por esse motivo, que algumas mulheres do conjunto Arsenio Alves, revoltadas com a falta de água, decidiram invadir o asfalto com latas nas cabeças, e queimar pneus, demonstrando, assim, a insatisfação com o descaso da Cagepa local.

      Alguém correu e veio me chamar. “Corre, Delcides, um monte de mulheres estão te chamando lá em cima, pra tu ajudares elas na manifestação”, disse-me o mensageiro. Corri, de fato, e ao chegar à PB 361, me deparei com o fogo nas alturas e as mulheres gritando palavras de ordem, como: “queremos água”.

      Confesso que foi irresistível. Entrei no meio e começamos a nos organizar melhor, chamando mais pessoas para a causa, pegando mais pneus, alertando motoristas que parassem os carros e motos, providenciando carro de som e mudando de local, como estratégia de chamar mais a atenção das autoridades, para o problema que a comunidade estava enfrentando.

       E aí, quando a cidade toda observou que a causa era nobre, o povo foi se chegando cada vez mais, lá de cima, lá de baixo, até nos sítios a noticia corria e alguns moradores chegavam para participar.
E como foi bom perceber que o povo unido é muito forte. Todos tinham algo em comum: estavam sem medo de lutar por seus direitos. Cada um ajudava de um jeito. Homens queimando pneus, comerciantes servindo água, mulheres com cartazes e moças e rapazes gritando água.

    O cansaço não veio, e aquela manifestação que parecia ser apenas de duas horas de duração, se estendeu das nove horas e foi até às três horas da tarde, sem cansaço, sem fome, sem sede. Filas de carros e ônibus, além de motos parados era um bom sinal, naquela ocasião. Até em João Pessoa a noticia corria nos rádios e televisão.

     E nas barreiras, Ninguém tentava passar, até porque tínhamos o apoio da Policia Militar, que ao ver nossa organização e o nosso clamor, nos auxiliou e garantiu também nossa segurança. De João Pessoa, o presidente da Cagepa, ligou várias vezes para nós, tentando o fim da manifestação.

     Ao percebermos, a nossa vontade de continuar na luta, ele fez várias determinação a seus funcionários de Cajazeiras e a AESA, para tomar as medidas cabíveis, para chegar água em Boa Ventura.
E assim foi feito: as comportas da barragem de Bruscas teve aumentada sua vazão, uma limpeza nos poços da Cagepa foi feita e outras medidas adotadas, tudo isso depois de uma reunião no colégio Batista, entre uma comissão formada e o pessoal da Cagepa. No outro dia, tínhamos água nas torneiras. Com o fogo na rua, a água chegou.

    E diante de todo esse relato, fica a seguinte lição: a população hoje em dia não quer e não deixa ser mais enganada. Todos sabem de seus direitos, até porque a população é cobrada em suas obrigações, então entendem também que é preciso um retorno. E que esse exemplo sirva em todos os sentidos, quando o povo estiver sendo usurpados de seus direitos.

      Já que na maioria das vezes, a voz do povo não é ouvida, as manifestações bem organizadas mete medo a qualquer autoridade de plantão. Portanto, fiquemos de alerta!


   











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