No próximo dia 26, completa um ano da grande e histórica manifestação em prol da água em Boa Ventura. Naquele dia, a população de Boa Ventura acordou
sentindo um clima diferente na cidade. Estava muito estranho naquela manhã de
outubro. Mas todos queriam uma resposta, e não encontrava algo que pudesse
justificar aquele ambiente.
O que era comum a todos naquele dia, era a falta da
água nas torneiras. Há mais de dias que o problema se agravara e a população
começara a ficar irritada com aquela situação.
Alguns poucos carros pipas distribuía água em algumas ruas e
filas de pessoas se formavam em dos poços da Cagepa, onde através de uma
tubulação, a água enchiam os baldes e panelas dos moradores. Era a única coisa
comum, então, a todos naquele dia, além de muita reclamação e indignação dos
consumidores.
Mas foi exatamente por esse motivo, que algumas mulheres do
conjunto Arsenio Alves, revoltadas com a falta de água, decidiram invadir o
asfalto com latas nas cabeças, e queimar pneus, demonstrando, assim, a
insatisfação com o descaso da Cagepa local.
Alguém correu e veio me chamar. “Corre, Delcides, um monte de
mulheres estão te chamando lá em cima, pra tu ajudares elas na manifestação”,
disse-me o mensageiro. Corri, de fato, e ao chegar à PB 361, me deparei com o
fogo nas alturas e as mulheres gritando palavras de ordem, como: “queremos água”.
Confesso que foi irresistível. Entrei no meio e começamos a
nos organizar melhor, chamando mais pessoas para a causa, pegando mais pneus,
alertando motoristas que parassem os carros e motos, providenciando carro de
som e mudando de local, como estratégia de chamar mais a atenção das
autoridades, para o problema que a comunidade estava enfrentando.
E aí, quando a cidade toda observou que a causa era nobre, o
povo foi se chegando cada vez mais, lá de cima, lá de baixo, até nos sítios a
noticia corria e alguns moradores chegavam para participar.
E como foi bom perceber que o povo unido é muito forte. Todos
tinham algo em comum: estavam sem medo de lutar por seus direitos. Cada um ajudava
de um jeito. Homens queimando pneus, comerciantes servindo água, mulheres com
cartazes e moças e rapazes gritando água.
O cansaço não veio, e aquela manifestação que parecia ser
apenas de duas horas de duração, se estendeu das nove horas e foi até às três horas
da tarde, sem cansaço, sem fome, sem sede. Filas de carros e ônibus, além de
motos parados era um bom sinal, naquela ocasião. Até em João Pessoa a noticia
corria nos rádios e televisão.
E nas barreiras, Ninguém tentava passar, até porque tínhamos o
apoio da Policia Militar, que ao ver nossa organização e o nosso clamor, nos
auxiliou e garantiu também nossa segurança. De João Pessoa, o presidente da Cagepa,
ligou várias vezes para nós, tentando o fim da manifestação.
Ao percebermos, a nossa vontade de continuar na luta, ele fez
várias determinação a seus funcionários de Cajazeiras e a AESA, para tomar as
medidas cabíveis, para chegar água em Boa Ventura.
E assim foi feito: as comportas da barragem de Bruscas teve
aumentada sua vazão, uma limpeza nos poços da Cagepa foi feita e outras medidas
adotadas, tudo isso depois de uma reunião no colégio Batista, entre uma
comissão formada e o pessoal da Cagepa. No outro dia, tínhamos água nas
torneiras. Com o fogo na rua, a água chegou.
E diante de todo esse relato, fica a seguinte lição: a
população hoje em dia não quer e não deixa ser mais enganada. Todos sabem de
seus direitos, até porque a população é cobrada em suas obrigações, então
entendem também que é preciso um retorno. E que esse exemplo sirva em todos os
sentidos, quando o povo estiver sendo usurpados de seus direitos.
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