segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Os sertanejos que ajudaram na construção de Brasilia: " Os candangos"

Zé Ramalho
   A capital do Brasil, Brasília, foi inaugurada em 1960. Ela foi construída praticamente em quatro anos, pelos menos os prédios onde abrigaria os órgãos públicos e algumas residências, pousadas e hotéis. E trabalhadores de todo o nordeste fizeram parte dessa história.
   Do Vale do Piancó, muitos jovens também deram sua contribuição. Eles viajavam em caminhões “pau de arara”, e  para chegar lá, demoravam dias, e tudo isso sem nem um conforto.
   Em Boa Ventura, o blog conversou com dois desses homens, que trabalharam na construção de Brasília, e que eram chamados de “candangos”. Zé Ramalho e Zélito Leite contaram resumidamente o que fez por lá, o que viveu naquela época e o que viu.
   Seu Zé Ramalho disse que trabalhou na construção do hotel nacional, e que para chegar em Brasília, demorou 19 dias. Enfrentou todo tipo de problemas na viagem. Sol, chuva e aperreio.
   “O serviço era pesado, e era uma multidão de gente. De Boa Ventura foi um bocado de homens, só que no momento não me lembro dos nomes”, contou ele. Mas ele ainda lembra do sofrimento de companheiros seus que se acidentaram e alguns chegaram a morrer, devido ao descaso da época com os candangos.
Joselito Leite
   “Ah, me lembrei agora de  José Preto e do seu filho Raimundo Preto, que eram daqui e foram no mesmo carro que eu”, recorda ele, já no final da conversa.
   Zélito Leite, muito jovem na época, pegou o caminhão em Itaporanga, e viajou no ano de 1959. Ele contou que passou 18 dias nas estradas, sofrendo feito galeto na brasa. “ Xi, o negocio não era fácil, não”, recorda ele.
   Mas a viagem foi um céu, em relação ao que encontrou por lá. Uma multidão de operários, trabalhando debaixo de um sol castigaste e a toda hora uma parte sendo acidentada. “Eu vi um companheiro morrer na minha frente”, diz Zélito, que  começou a trabalhar como tantos outros: na construção civil.
    Ele assistiu a inauguração da cidade, em 1960, com a presença do presidente Juscelino Kubitschek. “Era gente demais, homem”. Conseguiu trabalhar em outro setor e veio embora em 1961, decidindo três anos depois voltar para Brasília, onde trabalhou por muito tempo na Vasp, se aposentando pela empresa, e desde 1998 mora em Boa Ventura.
   Da cidade de Igaracy, muitos jovens também embarcaram nessa aventura, não por prazer, mas por necessidades. O pai deste editor também foi um deles. Assis Brasileiro foi de pau de arara e demorou dias para chegar em seu destino.
   Consegiu um emprego de vigia, mas só passou um ano e, não sabemos os motivos, deixou a cidade e foi para São Paulo, onde trabalhou como vendedor em uma loja, e que cujo proprietário tinha o nome de Delcides.
   Ficaram amigos, mas logo o chefão partiu para Minas Gerais, convidando-o para o sertanejo ir também. Não foi e decidiu retornar ao sertão, onde pouco tempo depois conseguiu uma vaga como escrivão de policia, cargo que ocupou durante trinta anos, se aposentando na função.
  A todos eles nossas homenagens!

Assis Brasileiro









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