· _ Ando
muito cansado, doutor. De manhã, para levantar da cama é o maior sacrifício.
Mal chego no trabalho, já quero voltar para casa.
Cansaço é uma das
cinco queixas mais frequentes dos que procuram os clínicos gerais. Nessas
ocasiões, cabe ao médico encontrar uma causa que justifique a falta de
disposição.
As mais comuns
costumam ser:
* Doenças
cardiovasculares (insuficiência cardíaca, arritmias, etc.);
* Doenças
autoimunes (lúpus, polimiosite, etc.);
* Doenças
pulmonares (enfisema, quadros infecciosos, etc.);
* Doenças
endócrinas (hipotireoidismo, diabetes, etc.);
* Doenças musculares
e neurológicas;
* Apneia do sono e
narcolepsia;
* Abuso de álcool e
outras drogas;
* Obesidade;
* Depressão e
outros distúrbios psiquiátricos;
* Infecções;
* Tumores
malignos.
A experiência
mostra que contingente expressivo de pessoas que se queixam de cansaço, não se
enquadra em nenhum desses diagnósticos. A tendência dos médicos nesses
casos é atribuir a queixa às atribulações da vida moderna: noites
mal-dormidas, alimentação inadequada, falta de atividade física, problemas
psicológicos ou mera falta de vontade de trabalhar.
Alguns desses
pacientes, no entanto, sentem-se muito mal, excessivamente cansados,
incapazes de concentrar-se no trabalho e executar as tarefas diárias.
Inconformados, fazem via sacra pelos consultórios atrás de um médico que
leve a sério seus problemas, lhes ofereça uma esperança de melhora ou, pelo
menos, uma explicação para o mal que os aflige.
São os portadores
da síndrome da fadiga crônica, diagnosticada mais frequentemente em
mulheres do que em homens.
Na maioria das
vezes, a doença se instala insidiosamente depois de um episódio de
resfriado, gripe, sinusite ou outro processo infeccioso. Por razões
desconhecidas, entretanto, a infecção vai embora, mas deixa em seu rasto
sintomas de indisposição, fadiga e fraqueza muscular que melhoram, todavia
retornam periodicamente, em ciclos, durante meses ou anos.
Como diferenciar
esse estado de fadiga crônica, daqueles associados às solicitações da vida
urbana?
Não há exames de laboratório específicos para
identificar a fadiga crônica. De acordo com o International Chronic
Fatique Syndrome Study Group, o critério para estabelecer o
diagnóstico é o seguinte: considera-se portadora da síndrome toda pessoa
com fadiga persistente, inexplicável por outras causas, que apresentar no
mínimo quatro dos sintomas citados abaixo, por um período de pelo menos
seis meses:
* Dor de
garganta;
* Gânglios
inflamados e dolorosos;
* Dores
musculares;
* Dor em
múltiplas articulações, sem sinais inflamatórios (vermelhidão e inchaço);
* Cefaleia com
características diferentes das anteriores;
* Comprometimento
substancial da memória recente ou da
concentração;
concentração;
* Sono que não
repousa;
* Fraqueza
intensa que persiste por mais de 24 horas depois da atividade física.
Alguns estudos
sugerem que predisposição genética, doenças infecciosas prévias, faixa
etária, estresse e fatores ambientais tenham influência na história
natural da enfermidade. Condições como hipoglicemia, anemia,
pressão arterial baixa ou viroses misteriosas também são
lembradas, mas a verdade é que as causas da síndrome da fadiga
crônica são desconhecidas.
A evolução da
doença é imprevisível. Às vezes, desaparece em pouco mais de seis meses, mas
pode durar anos ou persistir pelo resto da vida.
A ignorância em
relação às causas da síndrome, explica a inexistência de tratamentos
específicos para seus portadores. Os sintomas são passíveis de
tratamentos paliativos, entretanto anti-inflamatórios são
recomendados para as dores musculares ou articulares; drogas
antidepressivas podem melhorar a qualidade do sono.
Mudanças de estilo
de vida podem ser úteis. Os especialistas recomendam uma dieta
equilibrada, uso moderado de álcool, exercícios regulares de acordo com a
disposição física e a manutenção do equilíbrio emocional para controlar o
estresse.
Reabilitação
fisioterápica e condicionamento físico são fundamentais para a manutenção
da atividade física e profissional.
Como em todas as
doenças mal conhecidas, proliferam os assim chamados tratamentos
naturalistas, alguns dos quais apregoam resultados milagrosos para a
fadiga crônica. Infelizmente, não há qualquer evidência científica de que
eles modifiquem a evolução da doença.
dr. Drauzio Varella
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentario.