A
vida no interior é muito boa. Por aqui as pessoas andam tranquilas pelas
ruas e praças. No sertão as pessoas vão sem medo nenhum à igreja, a padaria, ao
bar, a lanchonete, enfim, a todo recanto. É muito calma a vida por essas
bandas. Todo mundo é conhecido um do outro. Parentes então, nem se fala.
E
as calçadas, hem! À noite são iguais às arquibancadas de estádio de futebol:
sempre lotadas. E lá, as pessoas falam de tudo e de todos. Às vezes fala
demais. Não escapa nada: quem deixou à cidade e quem chegou; quem comprou algo
novo ou trocou; quem está doente e quem se curou; quem prosperou e quem se
lascou; e noite dentro vai rolando a conversa, ou melhor, o fuxico.
Mas
sentar na calçada à noite e conversar com a família, os vizinhos e quem vai
passando na rua é uma cultura nossa antiga e sempre atual, e por mais que
alguém não goste da calçada e ache que os outros falam demais da vida alheia,
não pode dizer desta água não beberei.
Podemos até dizer que uma das felicidades mais corriqueiras é quando chega à
noite, por volta das seis horas, e as novidades são relatadas na calçada com
todo cuidado possível. Olhar para os lados, então, para falar é uma atividade
física bastante praticada por aqui. Sentar na calçada é na verdade uma terapia,
fuxicando ou não.
Mas
tudo é muito passageiro e não demora muito as calçada começam a ficar vazias.
Primeiro se recolhem os mais velhos, as mulheres para assistirem as novenas, e
por últimos as crianças e os jovens.
Logo
o silencio toma de conta das ruas na cidade pequena, apenas de vez em quando se
ouvem o latido de um cachorro perdido, a tosse de uma criança ou o apito de um
guarda solitário. Nas madrugadas pessoas descansam porque cedinho, a partir do
canto do galo, a vida recomeça na cidade pequena.
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