Um infarto pode ter matado uma jovem professora na cidade de Nova
Olinda, no dia de ontem, 11. Ela se chamava Maria José Dias, e passou mal,
sentindo fortes dores de cabeça. Foi levada às pressas para o hospital, mas
infelizmente veio a óbito, e o seu sepultamento vai ocorrer nesta terça-feira
pela manhã. A mesma era casada e tinha um filho. A família aguarda o laudo
médico para saber a causa da morte.
Mas se realmente constatado o infarto, não é a primeira vítima
jovem do Vale nos últimos dias que essa enfermidade ataca. Há cerca de 15 dias,
em Santana dos Garrotes, uma jovem senhora de 37 anos de vida, mãe de dois filhos
pequenos, também morreu de infarto, deixando a família e toda a comunidade
abatida.
Em Boa Ventura, João Neto, de 41 anos de idade, foi outra
vítima do coração. Em instantes, um infarto tirou-lhe a vida, de forma
prematura, deixando todos tristes com o episodio. Estes casos são os que temos
noticias, e outros tantos que a mídia não divulga?
Mas, o que afinal de contas porque o coração está matando
pessoas jovens com mais facilidade hoje em dia? O que se esconde por trás
desses problemas de saúde? O calor pode ter influencia para uma pessoa,
inclusive jovens, sofrer um infarto? Diante de tantas mortes prematuras devido
a problemas do coração, os jovens precisam evitar o fumo e a bebida e procurar
fazer exames médicos com mais frequência?
Não conseguimos conversar com um médico especialista para
tirar essas dúvidas, mas pesquisamos na internet algo sobre o assunto e gostaríamos
de compartilhar o que encontramos com todos vocês:
NTREVISTA
INFARTO DO MIOCÁRDIO:
FATORES DE RISCO
Dr. Drauzio varella
Dr. Edson Stefanini é cardiologista, professor da
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e
médico do HospitalSírio-Libanês
de São Paulo.
Drauzio - Que fatores aumentam o risco de
infarto do miocárdio?
Edson Stefanini – O infarto do miocárdio é uma
doença multifatorial, ou seja, uma doença provocada por diversos fatores que
agem conjunta e simultaneamente. Entre eles, destacam-se:
1) hereditariedade:
se na família existirem parentes próximos que tiveram infarto, angina ou foram
operados do coração antes dos 60 anos, é preciso estar atento, porque aspectos
genéticos são relevantes para o desenvolvimento da doença;
2) pressão arterial: controlar a pressão arterial e
mantê-la em níveis adequados é fundamental para
prevenir doenças cardíacas. Considera-se pressão arterial normal a que se
encontra entre a máxima de 12 e a mínima de 8;
3) diabetes: o
controle da glicemia (nível de açúcar no sangue) é indispensável, especialmente
se a pessoa já for portadora da doença. Os diabéticos, às vezes, sofrem
infartos subclínicos, que não provocam o sintoma convencional de dor no peito.
Nesses casos, mal-estar, sudorese, náuseas e até vômitos são atribuídos a algum
problema de menor importância;
4) colesterol: o controle do metabolismo das
gorduras tem de ser sistemático e permanente. Existem medicamentos eficazes que
ajudam manter o valor do
colesterol total abaixo de 200 e elevar o nível de sua fração protetora, o HDL,
conhecido como o bom colesterol. Exercícios físicos favorecem o aumento do HDL;
o cigarro o diminui;
5) triglicérides:
em geral, os triglicérides sobem quando há aumento da ingestão de carboidratos;
6) tabagismo: a
nicotina é um dos mais agressivos fatores de risco das doenças
cardiovasculares. Ficar longe do cigarro é a única opção para quem quer e
precisa prevenir-se.
METABOLISMO DO COLESTEROL
Drauzio - Conheci um homem
fortíssimo, com mais de 60 anos, que praticava halterofilismo desde menino. Seu
colesterol era bem baixo: 138, se não me engano. Numa consulta, perguntou se
poderia continuar comendo ovos. Não vi nenhum empecilho.
Seu colesterol era seguidamente controlado e nunca
tinha apresentado alterações. Por mera curiosidade, quis saber quantos ovos
comia e fiquei atônito com a resposta: uma dúzia por dia, porque faço muito
exercício e a proteína dos ovos me ajuda a manter a musculatura. Soube depois
que, desde os 25 anos, mantinha essadieta sem
reflexo algum nos valores do colesterol.
Fato semelhante ocorre com algumas pessoas obesas.
No entanto, encontrei gente que apresenta aumento do colesterol se comer um
único ovo ou engordar um pouquinho. O que demonstram casos como esses?
Edson Stefanini – Nem sempre é verdadeira a
ideia de que quem come muita carne, muita gordura, muito ovo, engorda ou tem
colesterol elevado. Pessoas, cujo fígado metabolize bem esse excesso de
gordura, não apresentam alterações significativas nos níveis do colesterol no
sangue. Entretanto, existem outras que, apesar da dieta restrita
e equilibrada, possuem colesterol elevado, porque suas funções hepáticas são
desfavoráveis ao metabolismo das gorduras. Essas precisam ser medicadas. É
importante deixar isso bem claro, pois é falsa a ideia de que quem é magro, faz
exercícios e observa uma dieta pobre em gorduras não precisa avaliar a dosagem
do colesterol no sangue.
ESTRESSE
Drauzio - O estresse também é
indicado como um
dos fatores responsáveis pelo infarto. No entanto, como não ficar estressado se
vivemos numa cidade caótica, trabalhando mais de 12 horas por dia?
Edson Stefanini – Inúmeras são as manifestações
orgânicas provocadas pelo estresse. Além de úlcera, hipertensão, queda de
cabelo, o estresse pode aumentar a probabilidade de manifestação das doenças
coronarianas, desde que associado a outros fatores de risco. Muitos me
perguntam se estresse pode causar morte súbita por infarto.
De
certa forma, ele pode ser o empurrãozinho que faltava. Se já existia
predisposição anterior em virtude da existência dos outros fatores, estresse
muito violento pode ser fatal. Por isso, como medida
preventiva, a orientação dada aos pacientes é evitar situações que
habitualmente provoquem tensão. Não é fácil, mas é possível. Organizar melhor
os horários, tentar resolver os problemas pendentes, deixando de lado os que
não conseguimos resolver, talvez seja um bom começo.
Drauzio - Diante de uma
pessoa evidentemente estressada, quantas vezes não recomendei que tirasse
férias, se afastasse dos problemas, procurasse viver mais tranquila. Recomendei
o que não faço, porque é difícil ficar indiferente ao que se passa ao redor.
Entretanto, o estresse é um mecanismo criado pela natureza visando à
sobrevivência e a teoria da evolução explica por que não desapareceu. Quem não
se estressava ficava olhando o leão aproximar-se e era comido por ele. Hoje, a
ameaça não se reduz a momentos esparsos de grande tensão. Transformou-se no
cerco diário representado por contas a
pagar, promissórias a serem quitadas, cara feia do chefe, desentendimentos
familiares e violência urbana. Esse estado de pressão permanente acelera o
pulso, a frequência cardíaca e piora a irrigação do miocárdio. Que peso tem o
exercício físico para reduzir o estresse já que não se consegue evitar as
atribulações do dia a dia?
Edson Stefanini – A experiência clínica tem
demonstrado as vantagens da atividade física diária no controle do nível de
estresse. Não há necessidade de ser um exercício intenso como correr a
maratona. Basta meia hora por dia, pelo menos quatro
vezes por semana, e o nível de tensão cai consideravelmente. Os benefícios não
são apenas físicos. Concomitantemente, ocorre um relaxamento psíquico e
emocional que faz as pessoas se sentirem com mais pique para encarar o dia a
dia.
Além disso, estudos comprovam que a probabilidade
de desenvolver doenças cardiovasculares é menor em quem se exercita
regularmente. Em se tratando de hipertensos, por exemplo, a atividade física
ajuda a controlar a pressão arterial. Esses pacientes, porém, precisam estar sob
supervisão médica. Se o indivíduo já apresenta fatores de risco coronarianos,
não pode sair por aí correndo ou entrar numa academia sem avaliação prévia de
suas condições orgânicas.
É preciso
verificar a pressão arterial, fazer eletrocardiograma e teste ergométrico a fim
de analisar sua performance quando submetido a esforço. Alterações importantes
no eletrocardiograma e na pressão arterial podem significar deficiência
coronariana ou cardiopatia isquêmica. Os portadores dessas patologias exigem
orientação meticulosa antes de aderirem ao programa de condicionamento físico
essencial ao tratamento.
Exercícios são indicados, também, para quem sofreu
infarto agudo do miocárdio, não só como parte do processode
reabilitação, mas como prescrição terapêutica durante o acompanhamento clínico
posterior, que precisa ser mantido indefinidamente.
TABAGISMO
Drauzio - Não se pode contestar
que o cigarro está incluído entre os
fatores de risco das doenças cardíacas. Muitos fumantes jovens (chamo de jovens
os que estão entre 35 e 50 anos) têm infarto do miocárdio. Que peso tem o
cigarro nessa fatalidade?
Edson Stefanini – O tabagismo é considerado um
dos mais importantes fatores de risco do infarto. Por isso, procura-se
combater, com veemência, o cigarro, principalmente nas pessoas que além de
fumantes apresentam outros fatores de risco para as doenças coronarianas. Não
podemos mudar de pais nem as características que deles herdamos, mas podemos
afastar os danos que o fumo traz consigo. A medicina moderna já oferece alguns
recursos para combater a dependência de nicotina.
Drauzio - Você poderia explicar
o que acontece com a coronária quando o fumante dá uma tragada?
Edson Stefanini – O cigarro contribui para a
aceleração da aterosclerose e para tornar mais instáveis os quadros de
insuficiência coronariana. A nicotina aumenta a frequência cardíaca e a
probabilidade de espasmo dos vasos sanguíneos. Aumenta, também, a predisposição
da placa aterosclerótica
para formar coágulos. Portanto, o risco de o fumante ter infartos e anginas é
altíssimo.
Drauzio - Se uma pessoa, que
fumou durante 20 anos, deixar de fumar, quanto tempo leva para desaparecerem os
efeitos da nicotina sobre o coração?
Edson Stefanini – Os efeitos agudos da nicotina
desaparecem logo. Naturalmente o fato de a pessoa ter fumado durante 20 anos
deixou sequelas no organismo. Por exemplo, placas ateroscleróticas podem ter-se
formado, mas a probabilidade de permanecerem estáveis aumenta muito, se a
pessoa deixar de fumar. Por outro lado, se outros fatores de risco estiverem
fora de controle, fumar acelera a desestabilização da placa e o aparecimento de
quadros agudos coronarianos, como dores
no peito, angina, infarto agudo do miocárdio e até morte súbita.
Drauzio - É importante esclarecer
que fumam muito não só quem fuma dois ou três maços, mas as pessoas que fumam
mais de cinco cigarros por dia. Como podem os médicos auxiliar os
pacientes a vencer a dependência do fumo?
Edson Stefanini – Atualmente se procura
convencer a pessoa de que não há outra saída a não ser parar de fumar. É
frequente ouvirmos, no consultório, que alguém fumava dois maços por dia e que
agora fuma um ou outro cigarro. Infelizmente, esse propósito é transitório porque,
sem que se dê conta, logo terá voltado a fumar um maço, um maço e meio por dia.
Por isso, a solução não admite meios termos. É preciso abandonar de vez o
cigarro. Os médicos, além de aconselhamento e orientação psicológica, podem
intervir farmacologicamente prescrevendo medicamentos.
Existem
adesivos de nicotina que ajudam a diminuir os efeitos da síndrome de
abstinência. A nicotina é uma droga poderosa que provoca dependência física
brutal. Quando o fumante para repentinamente de fumar, por alguns dias pode
sentir-se muito mal, ficar ansioso, desesperado mesmo. Por isso, parar de fumar
é tão penoso quanto se livrar de qualquer outra dependência química.
Drauzio - É revoltante pensar
que o público alvo da publicidade do cigarro é a criança. Se elas soubessem como sofrerão
para libertar-se dessa dependência, jamais poriam um cigarro na boca. Toda
droga tem sua armadilha; a da nicotina é o primeiro cigarro.
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
Drauzio - Até este ponto da
entrevista falamos mais da prevenção do infarto. Fale um pouco sobre o que
devem fazer os pacientes que já tiveram infarto e temem ter outro?
Edson Stefanini – Embora fosse maravilhoso, é
utópico imaginar que poderíamos detectar e combater os fatores de risco na
população como um
todo. Por isso, a grande batalha do cardiologista concentra-se na prevenção
secundária, isto é, no atendimento a pessoas que já tiveram uma doença
coronariana – angina, arritmia, infarto do miocárdio – ou fizeram cateterismo.
Vencida a fase aguda da doença, elas entram num programa de prevenção
secundária, ou seja, identificação e controle de todos os fatores de risco. Se
forem fumantes, não têm escolha: precisam parar de fumar.
Hipertensão,
diabetes, níveis elevados de colesterol recebem atenção e cuidados específicos.
Procura-se orientar esses pacientes em relação ao nível de estresse, pois devem
redimensionar as atividades e descobrir uma forma menos desgastante de encarar
os problemas do dia a dia.
Pessoas com problemas coronarianos recebem
obrigatoriamente um esquema de exercícios físicos que vai desde de um programa
sofisticado realizado em academias especializadas na reabilitação de doentes
cardiopatas, até os mais simples, como caminhar pelas ruas ou parques. Nos dois
casos, porém, o acompanhamento médico é indispensável para estabelecer o nível
de esforço adequado para cada uma.
Basicamente é esse o programa a que se submete uma pessoa que já sofreu infarto agudo do miocárdio. Observá-lo éfundamental, pois o controle dos fatores de risco pode prevenir um novo acidente vascular. Além disso, também previne sintomas de angina que podem requerer hospitalização, angioplastias ou cirurgias de revascularização.
Drauzio - Muita gente toma o
primeiro infarto como aviso de que algo grave pode acontecer a qualquer
momento. Na sua experiência como cardiologista, a vida dessa gente muda
radicalmente para melhor ou, como suicidas, muitos repetem os mesmos erros?
Edson Stefanini – Temos alguns exemplos de
pessoas estressadas que viviam num redemoinho. Trabalhavam em quatro ou cinco
lugares diferentes, fumavam muito, estavam acima do peso, não controlavam os
níveis de colesterol nem do açúcar e tinham antecedentes familiares de infarto
do miocárdio. Depois do primeiro infarto, felizmente pequeno e com sequelas
menos significativas, essas pessoas realmente mudaram de vida. Passaram a
controlar os fatores de risco, diminuíram o ritmo das atividades, dedicaram
pelo menos duas horas por dia ao lazer e transformaram-se em símbolos do
consultório. O problema é que nem sempre é assim. Muitas, passado o susto
inicial, retomam os hábitos antigos e, na maioria das vezes, arcam com
consequências que poderiam ser evitadas.
Drauzio - Certa vez, perguntei,
ao dr. Sérgio Simon, médico cancerologista, se pudesse escolher,
preferiria morrer de câncer ou de infarto. Dr. Sérgio respondeu que preferia
morrer de câncer. E você, como escolheria morrer?
Edson Stefanini – Eu preferiria não escolher nenhuma
das alternativas. Todavia, tenho a impressão de que a morte súbita é uma forma
menos sofrida de morrer. Uma vez obrigado a escolher, acho que seria essa minha
opção.
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