segunda-feira, 27 de maio de 2013

Seu Bernardo e sua vida de agricultor, mestre de rapadura e canoeiro

    O blog tem encontrado algumas figuras humanas extraordinárias aqui em Boa Ventura e faz questão de contar de forma resumida a vida delas e seus feitos, como exemplo de persistência e determinação para as gerações mais novas. São fatos de gente simples, mas que foram vividos dignamente e que merecem nosso respeito e admiração.
   Hoje, damos notoriedade ao senhor José Bernardo Neto, que conta com a idade de 87 anos de vida. Aposentado e vivendo ao lado da esposa, chamada Nêga de Bernado, e dos filhos, ele conta ao blog algumas passagens de sua vida de agricultor e de outras atividades que desenvolveu durante muito tempo por essas bandas de Boa Ventura.
    Seu Bernardo foi mestre de rapadura por cerca de trinta anos, trabalhando nos engenhos de Del Pinto, do Raimundo, do Dr. Diniz, Andreza, entre outros locais. “Meu filho, eu trabalhava na roça e no tempo que os engenhos estavam funcionando, eu tinha essa missão, porque eu gostava e também porque ganhava uns tostões para sustentar a família”, conta ele.
    Mas outra atividade que seu Bernardo também atuou por 40 anos foi de canoeiro, isto é, pegava a canoa e fazia a travessia das pessoas de um lado para o outro quando o rio Piancó recebia as cheias. “Muita gente só queria atravessar o rio comigo pela confiança que eles tinham em minha pessoa”, relembra.
   Uma passagem que ele relembra com muita emoção foi quando no ano de 1960, a chuva foi intensa e causou uma grande cheia no rio Piancó e teve que nadar agarrado a uma cumbuca até a cidade de Itaporanga.
   “Até a véspera dessa chuva, o ano estava bastante seco, e eu estava com uma carta de um rapaz chamado Romão, que era morador de seu Luizito Leite, e ele pediu para que, pela madrugada eu levasse essa carta ao seu patrão na cidade de Itaporanga. A carta dizia que ele iria embora por não aguentar mais aquela seca”.
    Continua: “No entanto, quando acordei de madrugada, a chuva tava tomando conta do mundo, mas trato era trato e eu tive que ir, e não teve outro jeito: peguei a cumbuca, botei a carta enrolada num pano, e entrei no rio, que já tava com muita água. Acho que a viagem demorou umas três horas e cheguei já de dia em Itaporanga. Entreguei a carta e voltei a pé pela estrada por dentro”.
   Outro fato marcante em sua vida foi quando a filha de seu Raimundo Pinto se afogou em um açude no sitio Boa Sorte, junto com outra moça. “ Seu Raimundo me procurou e pediu para que eu fosse ajudar na busca do corpo de sua filha, já que no açude muita gente estava procurando há horas e não estava encontrando nada. Fui e nadei, mas antes eu coloquei uma vela acesa em uma cumbuca e esperei ela ficar girando, e aconteceu. Ali onde ela começou a girar eu mergulhei e encontrei o corpo da menina”, diz Bernardo.
   Ele também contou que ajudou a encontrar vários corpos de pessoas da comunidade que morreram afogadas nos poços do rio e açudes da região. “Eram pessoas conhecidas que por algum motivo se afogaram e eu tinha essa missão de ajudar a família nesse momento de muita dor”.
   E assim, mais uma pequena e grande historia contada da vida de um homem simples como tantos outros que já lembramos e outros que vamos ainda narrar, para que o registro de nossos heróis do sertão não se apague.



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