terça-feira, 10 de setembro de 2013

Oscar, o homem que chupa cana até debaixo dágua

     Oscar sempre foi um homem destemido, e quando era para defender os seus não pensava duas vezes para tomar uma atitude. O ano era 1976, tempo de uma terrível seca que abalou o sertão nordestino. Em Boa Ventura nem sombra de gente fazia, já que o povo estava mais fino do que graveto de lenha. Dizem que nem mesmo urubu circulava por aqui, porque os bichos que morriam de fome só tinham osso.

    Depois de fazer não sei o que na roça em tempo de seca e já dando hora de almoço, Oscar encontra numa plantação de cana uma solução para os bichinhos que ficaram em casa esperando o pai chegar com alguma coisa.

    A plantação irrigada de cana era do avô de doutor Diniz, na Chatinha, e como não tinha ninguém por perto, ele não viu outra solução do que “ajuntar” uns talos de cana de açúcar e fazer um feixe para levar para casa.

   Pega um, depois outro, depois mais outro, amarra tudo e bota na cabeça, e de repente, lá vem o velho gritando alto e com um revolver na mão: “Quem ta aí pegando cana, hem?”. Oscar já com o feixe de cana na cabeça não dá tempo correr, e só encontra um jeito naquele momento para não levar um tiro do dono da terra.

    Ele mergulha no açude que ainda tinha muita água, com cana na cabeça e tudo. O velho começa a gritar: “Só saio daqui quando esse infeliz da costa oca sair dessa água, porque eu quero ver quem é ele.

   No entanto, depois de dez minutos, meia hora e uma hora. Aí o velho se aperreia e bate um arrependimento. “Oh, meu Deus, será que essa peste morreu dentro da água”. Mas eis que, de repente começa a flutuar na água pedaço de bago de cana. Um sobe, outro, mais outro e por aí vai.
E tudo isso na presença do velho, que estava na beira do açude. Assustado e sem entender nada, ele começa a gritar de novo: “Oxe, o que é isso ai em baixo da água, hem?”.

   Uma voz rouca grita lá de baixo da água: “Sou eu, Oscar!”. O velho diz: “Então saia daí seu cabra”. Oscar fala: “Tou com pressa, não, tou sentado aqui numa pedra e chupando as canas, e ainda tem mais pra eu chupar”.

    O velho se irrita e entra na água, mas na primeira “goipada” quase morre afogado e sai às pressas se lastimando. “Esse infeliz de Oscar só pode ser do outro mundo mesmo, viu, mas um dia te pego”.




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