LAJOLLA, EUA — Novas terapias mais
individualizadas — e certeiras — já têm sido capazes de estender a
sobrevivência de pacientes de câncer em muitos anos. Caríssimas, elas enfrentam
um próximo desafio óbvio: tornar-se acessíveis à maioria da população. O tema é
parte do Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica, que vai até
terça-feira em Madri. E foi central também no Congresso da Sociedade Americana
de Câncer, no início deste ano.
A base delas está no avanço da tecnologia genética.
A proliferação celular é controlada por determinadas moléculas, que, no caso do
câncer, atuam de maneira descontrolada. A chamada terapia alvo combate
moléculas defeituosas. Com isso, o medicamento atua especificamente nas células
tumorais, ao contrário da quimioterapia, que afeta também as saudáveis. Isso
reduz os efeitos colaterais e torna o tratamento mais preciso.
SUS JÁ OFERECE ALGUMAS
Um passo à frente está a medicina de precisão, que
usa informações de genes, proteínas e outras características da pessoa para
diagnosticar e tratar o câncer. Várias dessas terapias já estão no mercado no
Brasil, algumas no sistema público, mas a maioria em hospitais privados.
Segundo a sociedade europeia, o primeiro exemplo de
terapia alvo foi o trastuzumabe, indicado no tratamento dos portadores da
mutação do HER2, que representam 20% do total dos cânceres na mama. Mas,
segundo estudo apresentado no congresso, a distribuição não era homogênea na
Europa. Isso devido ao alto custo, em média de R$ 7 mil por mês. Em alguns
casos, elas precisam vir associadas a terapias tradicionais, como
quimioterapia, radioterapia ou a própria cirurgia, o que aumenta ainda mais o
custo.
No Brasil, desde o ano passado, esse medicamento é
ofertado pelo SUS. Segundo o Ministério da Saúde, até o final de 2014, o
investimento vai totalizar R$ 244 milhões. Outro medicamento já disponível é o
mesilato de imatinibe, utilizado para o tratamento de tipos de leucemia, assim
como tumor gastrointestinal. A estimativa do ministério é que a medida atinja
cerca de 500 pacientes ao ano e tenha investimento de R$ 5,8 milhões em 2014.
— Pacientes com leucemia mieloide crônica eram
encaminhados para o transplante de medula óssea como a única alternativa com
potencial curativo e de evitar uma fase aguda, que é letal. Atualmente temos
esse tratamento capaz de inibir a transformação em mais de 80% dos pacientes. O
tratamento é crônico e de duração ainda indefinida. Porém, estudos preliminares
sugerem que alguns pacientes poderão interromper o medicamento após resultados
favoráveis por um período de 5 anos — exemplificou o oncologista Daniel Tabak,
que acrescentou. — O uso do trastuzumabe diminui em 50% o risco de uma recidiva
após a cirurgia.
A lista de medicamentos mais avançados só faz
aumentar. Em janeiro, diversos produtos contra alvos específicos em cânceres de
rim, pele, pulmão, mama e próstata passaram a ser cobertos pelos planos de
saúde. A maioria continua indisponível no sistema público.
— O mundo inteiro está debruçado sobre isso, já que
o câncer tende a aumentar nos próximos anos. Tratamentos e métodos diagnósticos
mais sofisticados trazem um custo que aumenta em proporções geométricas —
comentou Tabak. — Nos EUA, parte do custo agora é cobrada do paciente pela
maioria dos planos de saúde. Dificilmente essa solução seria aceita aqui no
Brasil.
O especialista cobra ação dos laboratórios
farmacêuticos para minimizar os custos. Segundo o documento da sociedade
europeia, há poucos incentivos dos governos para acesso a tratamentos
específicos, e a regulação é lenta. “Embora o custo de implementação seja alto,
qual é o custo de não seguir por esse caminho?”, indagou a entidade.
A LONGO PRAZO, GASTO COMPENSA
Já durante o congresso americano, a discussão
recaiu sobre o valor a ser desembolsado pelo sistema de saúde. A defesa dos
médicos é lógica: criar critérios para levar os sistemas de saúde a absorver os
avanços que reduzem a mortalidade do câncer, pois, assim, ganham-se mais vidas
produtivas.
— O custo e o tempo de desenvolvimento de uma droga
é longo. Mas estamos abertos a dialogar com governos e entidades sobre o acesso
das novas terapias contra o câncer — afirma Roberto Uehara, do setor de
oncologia do laboratório Pfizer na América Latina.
Uehara lembra que a situação dos países emergentes,
entre eles o Brasil, é alarmante. Pois, embora a incidência esteja aumentando
em países desenvolvidos, a mortalidade está caindo, devido ao acesso a
diagnóstico precoce e aos tratamentos. Já na América Latina, só 5% a 10% dos
cânceres são diagnosticados no estágio 1, o mais precoce. Além disso, pacientes
da região têm 20% menos chances de sobrevida do que nos Estados Unidos no caso
do câncer de mama, cita o pesquisador. Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), 60% de todos os casos de câncer ocorrem hoje em África, Ásia e América Latina
e Central. Em 2012, 8,2 milhões de pessoas morreram da doença no mundo.
Fonte: O GLOBO
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