Boa Ventura é um palco de grandes histórias do passado. Já
contei aqui várias dessas passagens, trazendo fatos pitorescos, e narrativas
marcantes que ocorreram em épocas distintas desta terra, sempre envolvendo a
gente simples, mas forte por natureza.
Contei aqui, outro dia, que a pequena vila de São Boaventura,
na década de 30, também teve participação ativa na revolta de Princesa Izabel,
do coronel Zé Pereira, quando alguns homens da terrinha se juntaram aos homens
do coronel na defesa do “novo território de Princesa”. Na dita guerra, morreram mais de 100 homens, sendo a grande maioria
de homens da Policia do estado.
Vila de são Boaventura na década de 30 |
A revolta durou cerca de quatro meses, tendo um fim quando da
morte do então governador João Pessoa, em Recife. Com a morte do principal
adversário do coronel Zé Pereira, não teria mais sentido continuar com a guerra,
no entanto, o exercito e a policia invadiram Princesa Izabel de forma contundente,
obrigando o coronel a fugir da cidade, bem como os seus aliados.
Um de seus amigos e seguidores era Antonio Severo, natural de
Nova Olinda, mas morando em Princesa naquela época. Depois que o coronel mandou
seus amigos fugirem, muitos correram mata adentro, sem destino e sofrendo as intempéries
do tempo.
Severo foi um deles, que passou por Nova Olinda e de lá tinha
como destino o Ceará. Cortou caminho e cruzou pela pequena vila de São
Boaventura. Vinha trazendo a mulher e alguns filhos pequenos, um animal, muita
fome e sede, além de esperança de encontrar um lugar tranqüilo para ficar.
Ao passar em sertão de dentro, área onde hoje está localizado
a Praça Juviliano Gomes, ao lado da antiga Telpa, e que antigamente era um
pequeno cemitério, sem muro e sem nenhuma proteção, Severo e família encontram
um lençol estendido ao chão, mas parecia estar protegendo alguma coisa.
Com as crianças passando frio e como estavam sem muitas
roupas, Severo corre e puxa o lençol, e toma um grande susto: o lençol estava cobrindo
o corpo de um soldado, que pela aparência e mau cheiro estava morto há vários
dias. Também não titubeou, pegou o lençol com cara feia e ao passar pelo rio
Piancó tratou de lavá-lo e depois de secar serviu como proteção para a família que
estava em fuga.
Passaram pouco tempo no Ceará e retornaram para Nova Olinda,
no entanto, Severo voltou para a vila de São Boaventura e ali fez morada até
morrer, na década de 80. Outros filhos nasceram na vila e quem me contou esse
fato foi um de seus filhos, de nome Oliveira, que também tem outros irmãos na
cidade, como Targino e dona santa.
Oliveira contou que seu pai tinha uma foto tirada em
Princesa, ao lado de amigos, todo paramentado, na luta da causa do coronel Zé
Pereira. “Ele não gostava de mostrar essa foto não, mas eu a vi quando eu era
bem moço”, disse.
No período da guerra de Princesa, vários amigos do coronel
nesta região, a exemplo de Pedro Arruda, levaram alguns homens para ajudar o
amigo. Mas, no decorrer desse processo, a polícia invadiu a vila de São
Boaventura e os moradores que ficaram fugiram de suas casas, com medo de serem
mortos. Alguns foram parar no Ceará.
Ao saber do fato, o coronel mandou alguns de seus homens retomarem
a vila, foi quando aconteceram embates que causaram mortes dos dois lados. O
clima de paz só foi restaurado tempos depois, na vila e em Princesa, quando o
coronel Zé Pereira fugiu e os seus aliados de Boa Ventura retornaram à sua
terra natal.
Delcides Brasileiro
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